A Rainha - Elizabeth meets Tony
A Rainha, o novo filme de Stephen Frears retrata os acontecimentos vividos por Isabel II e a família real britânica na altura da morte da Princesa Diana, em Agosto de 1997. De um lado mostra-nos a família real britânica, conservadora e fechada, a querer um funeral privado e alheia aos sentimentos de dor e tristeza vividos pelos seus súbditos, que queriam um funeral público para se poderem despedir da Princesa do Povo. Do outro lado, um Tony Blair recém chegado ao cargo de Primeiro-Ministro, com vontade de mudar e tornar o Reino Unido mais moderno e mais dinâmico, porém não querendo entrar em choque com a rainha, por quem sente uma grande admiração. À medida que Blair cai nas boas graças do povo, a família real vai perdendo admiradores junto dos britânicos e dos meios de comunicação social, que exigem um comunicado oficial do palácio e uma maior demonstração de respeito por Diana. Blair tenta então minimizar esses estragos, fazendo ver à Rainha que o melhor é acatar o desejo dos ingleses, porque também é do seu interesse e da própria instituição que personifica.O filme vive sobretudo do brilhante desempenho de Helen Mirren, sendo desde já uma das fortes candidatas à nomeação para o Oscar de Melhor Actriz, até porque a Academia gosta de personagens biográficas e Mirren é uma actriz conceituada e respeitada, principalmente no Reino Unido. O resto do elenco também é bom, apesar de não terem tanto "tempo de antena", porque a maior parte das cenas é dividida entre Isabel II e Tony Blair. O filme peca pelo excesso de imagens videográficas da época, o que o torna um misto de documentário e de telefilme. Apesar de tudo, Stephen Frears apresenta-nos uma obra clássica e competente, porém um pouco aborrecida.
Brick - Ou a seca infinita da morte...
Quando fui ver este filme não tinha muitas referências, nem sabia muito bem para o que ia. Sabia que era um filme independente americano com um elenco de jovens actores e lembro-me de ouvir que tinha ganho qualquer coisa no Festival de Sundance. Fui confirmar e pude constatar que ganhou o Prémio Especial do Júri. A acção passa-se numa escola secundária e o personagem principal é um jovem que não gosta muito de conviver com os outros alunos e mantém-se à margem dos grupos normalmente criados nos liceus. O seu único amigo é o típico nerd (óculos com lentes garrafais e ar de tóni, mas que conhece todos os "meandros do submundo"), mas o nosso herói também não fica atrás, aliás toda a "indumentária" dele merece destaque, a começar no cabelo desgrenhado e a acabar no sapatinho do horror. Mas voltando à história, o nosso herói encontra a sua ex-namorada morta e decide investigar, envolvendo-se com o grupo mais perigoso do liceu, cujo misterioso líder é o responsável pelo fornecimento de droga.
A base do filme é o típico film noir dos anos 40, onde existem os maus, a mulher fatal, negócios ilícitos (neste caso droga) e toda a acção é exposta como um quebra-cabeças que é resolvido no final pelo personagem principal. Apesar de todas as reviravoltas no argumento, o filme não se torna confuso e o realizador consegue algumas proezas de realização em algumas cenas, mas a partir de determinado momento desliguei e senti-me tão incomodado como quando vi a "Senhora da Água". Senti-me aborrecido de morte, e desejei que todos os personagens morressem o mais cedo possível...o que aconteceu a alguns, mas não foi suficiente. Acho que não vale a pena falar mais sobre este filme, porque a partir de agora só iria falar mal e não gosto de contar muitos pormenores aos meus fieis leitores, caso desejem ir ver estes filmes... Claro que se forem ver depois de ler o que escrevi, eu aponto o vosso nome na minha lista negra...;)
Copying Beethoven
Fui ver este filme à Sala Vip do Norte Shopping e deliciei-me de ouvir Beethoven confortavelmente instalado numa larga cadeira de cabedal. Já devem estar a pensar: vive-se bem para aqueles lados! Não, pura e simplesmente o Público não faz referência a qual dos filmes está nessa sala e funciona um bocado como efeito surpresa, em vez de gastar 2,50€ gasto 5,50€, mas pronto.... Não posso dizer que o dinheiro foi mal empregue, porque apesar deste filme não ser nada de especial, é uma obra simpática. O filme tem a sorte de ter o Ed Harris, mais uma vez com um grande desempenho e a belíssima Diane Kruger ( A famosa Helena de Tróia), que nos tira o fôlego em cada plano que entra.
O filme abrange a altura em que Beethoven escreve a 9ª Sinfonia e o seu estado de surdez o torna uma pessoa solitária e agressiva. Anne Holtz é enviada para trabalhar como copista para Beethoven e a desconfiança inicial pelo facto de ser mulher, dá lugar a uma admiração profunda de ambas as partes. Beethoven cria um amor platónico pela sua nova ajudante, oscilando entre estados de agressividade e de doçura e compreensão.
Anne Holtz tem um papel muito importante na sua vida e é graças a ela que a apresentação da 9ª Sinfonia é um sucesso, porque como Beethoven insistiu em dirigir a orquestra, o que provocou o pânico em todos os músicos da orquestra, bem como do coro, Anne ajudou-o na condução, visto que Beethoven praticamente só sentia as vibrações.
O trabalho de figurinos e de recriação de época estava tudo impecável e apesar de este não ser (e calculo que não seria essa a ideia da realizadora) um Amadeus, é um filme simpático que se vê bem. Só o facto de ter ficado arrepiado durante a 9ª Sinfonia já não é mau sinal, não acham?
Estranhos - Onde é que já vi isto, mas bem melhor?
Após ter visto o trailer deste filme no cinema pensei: "Até pode ser interessante". A história não é nada de novo, um grupo de 5 pessoas acorda num armazém abandonado no meio de nenhures, uns feridos, um amarrado e outro algemado, sem saberem quem são e o que estão lá a fazer. Isto lembrou-me logo "O Cubo" e o "Saw", mas como o elenco me chamou a atenção, decidi ir ver.
Desde o início ficamos a perceber que uns personagens eram os raptores e outros os prisioneiros, porque o realizador vai-nos fornecendo informações, desde os flashbacks dos personagens (que por norma acontecem quando estão em frente ao espelho da casa de banho e são muito foleiros), até à sequência da colocação do dinheiro do resgate por parte da mulher dum deles num cacifo, sob a orientação da polícia. A partir daí os personagens vão-se lembrando de pequenas coisas que à medida que o filme se vai desenvolvendo vão encaixando, para nos explicarem o que realmente aconteceu. A ideia inicial do filme é interessante, mas foi muito mal aproveitada, porque acaba por cair num cliché medonho em que não falta o famoso twist final, tão usado em filmes que não têm nada de novo para contar e que no fim querem surpreender os espectadores. A única coisa que se poderia aproveitar neste filme é o facto de os próprios raptores, visto que não têm memória, ajudarem os outros personagens a tentar escapar daquele sítio. É a única nuance interessante que este filme nos oferece, o mau que não sabe que é mau, mas que se sente ligado ao bons e que no final se revela uma boa pessoa, apesar de todo o mal que causou. Mas tirando isso não sei o que o Greg Kinnear, o Barry Pepper, o Joe Pantoliano e o Jeremy Sisto estavam a fazer neste filme. Normalmente neste tipo de filmes mais independentes os actores consagrados só o fazem com base num bom guião e sinceramente não sei onde ele está. Mas os bons filmes que fazem apagam estas nódoas.... Se a minha opinião é importante, não percam tempo com este filme.
O Perfume: História de um Assassino
Ou o senhor que tem um fraco por ruivas e que gosta de as cheirar
Ora bem, por onde hei-de começar? Confesso que li o livro de Patrick Suskind há muitos anos e que na altura me fascinou. Um livro em que o personagem principal é o cheiro e a maneira como o autor nos leva a imaginar o que vai pelo nariz do jovem Grenouille, cedo transformou esse livro numa das minhas referências literárias. Como disse um amigo meu (Xico), que quando estava a ler o livro e as pessoas reparavam no que ele estava a ler diziam: "Até parece que dá para cheirar, não é?"
Pois é, por isso tive medo quando soube que iam transpôr esta obra ao cinema, porque basicamente o livro vive das longas descrições de Suskind sobre os aromas que atravessam a vida de Jean Baptiste Grenouille, em busca do Perfume perfeito. Stanley Kubrick teve intenção de adaptar a obra ao cinema, mas depois de alguns anos envolvido no projecto disse que era infilmável. Tom Tykwer, realizador do frenético "Corre, Lola Corre", resolveu pegar neste projecto e adaptá-lo ao cinema, vem daí um pouco o meu receio inicial; um projecto tão complexo na sua adaptação requer um realizador com visão e com muita maturidade cinematográfica. Não estou a dizer que este filme é redundante e fraco, mas noutras mãos poderia-se ter transformado num filme bastante mais interessante.
Li uma crítica à uns tempos que dizia que o filme era péssimo e que o realizador usava abusivamente de grandes planos do nariz do protagonista, mas sinceramente não achei, até porque como podemos integrar os espectadores num filme que vive necessariamente do cheiro? Estava a gostar do filme, mas a partir de meio comecei-me a aborrecer e quando isso acontece meus amigos, não há volta a dar. Mas os desempenhos são bastante bons, com destaque para o sempre bom Dustin Hoffman e para a menina ruiva, objecto de desejo de Grenouille ( mas esta por outros motivos que não se prendem necessariamente com a representação. Que ninguém me ouça porque a menina tem só 16 anos e é pedofilia). E achei piada a uma coisa: supostamente matou as mais belas 13 jovens, como foi dito no filme, mas o perfume deve ter saido estragado, porque algumas eram um bocado "escamartilhonas". Bem já descambou, vou ficar por aqui...
The Departed
Tenho que admitir que as últimas três aventuras cinematográficas do sr. Scorcese (Bringing Out the Dead, Gangs of New York e The Aviator) não me tinham convencido muito, chegando mesmo a provocar-me alguma indiferença, mas desta vez tenho que admitir que Scorcese esmerou-se e conseguiu criar um filme consistente, vibrante e apelativo. Retoma um tema que não lhe é estranho, o mundo da máfia, tal como fez em Casino e Goodfellas, mas desta vez transferiu a acção para a cidade de Boston, onde encontramos os personagens num constante jogo do gato e do rato.
Scorcese foi buscar inspiração ao filme "Internal Affairs", de Wai Keung Lau e Siu Fai Mak, cineastas de Hong Kong, tendo conservado o motor central da acção: o confronto entre dois polícias infiltrados, um inserido numa rede criminosa e o outro aparentementen mantendo o seu trabalho normal, mas fazendo jogo duplo e servindo essa mesma rede.
Colin Sullivan (Matt Damon) é um polícia inteligente e ambicioso que não se coibe de jogar da maneira que for preciso para atingir os seus fins e que ajuda Frank Costello ( Jack Nicholson), um perigoso gangster perseguido pela polícia, fornecendo-lhe informações de todos os passos que a polícia vai dando na investigação para a sua captura. É aí que entra Billy Costigan (Leonardo DiCaprio), um polícia recém-graduado, que perde o seu distintivo por causa do seu temperamento violento e que acaba por ser recrutado como agente infiltrado no grupo de Costello. E mais não conto, senão perde a piada para quem vai assisitir....
A realização de Scorcese é forte e eficaz e joga muito bem as cenas com a banda sonora. As interpretações são muito boas: Matt Damon um actor que nunca me agradou muito, provavelmente teve o seu melhor registo até à data e DiCaprio teve o seu melhor papel nos 3 filmes que fez com Scorcese. Jack Nicholson é sempre grande, fazendo parte do rol dos meus actores de eleição.
Fui ver o filme ao GaiaShopping e qual o meu espanto quando fizeram intervalo...inevitavelmente cria-se uma comparação entre a primeira parte e a segunda e admito que a 1ª parte é superior, mas no geral é um bom filme e até à data um dos melhores filmes do ano (também não é difícil tendo em conta que este ano foi muito fraco a nível de qualidade), mas de qualquer maneira recomendo...
Paris Je T'Aime: Percorrer Paris em 18 Curtas-Metragens
20 realizadores de renome usaram como ponto de partida a cidade de Paris para nos apresentarem um conjunto de 18 curtas-metragens que nos levam a percorrer algumas ruas e locais da cidade luz. Cada curta tem duração de 5 minutos, o que torna as coisas mais complicadas para contar uma história, principalmente quando se aposta num registo mais dramático, em que o final fica em aberto. Neste caso ficamos "desconsolados" e perguntamos : era só isto?
As curtas mais interessantes são as que apostam num registo mais cómico, tal como a dos irmãos Coen, onde a situação vivida por Steve Buscemi numa estação de metro se tornou das mais bem conseguidas, tal como a de Alexander Payne, onde uma senhora de meia-idade americana vagueia pela cidade, falando num francês com sotaque americano, proporcionado-nos bons momentos de humor. Gerard Depardieu estreia-se como co-realizador numa curta com um elenco de luxo: Ben Gazzara e Geena Rowlands, proporcionando-nos uns diálogos deliciosos "regados" com um bom vinho francês num típico restaurante parisiense.
O filme mais tipicamente francês é o de Sylvain Chomet, onde o personagem principal é um simpático mimo. Realizador de cinema de animação, ("Les Triplettes de Belleville" e "La Vieille Dame et les Pigeons") proporciona-nos 5 minutos de boa disposição onde se nota o toque da animação na deslocação do mimo pelas ruas da cidade.
O filme de Tom Tykwer, com a sempre bela Natalie Portman também é uma curta interessante, onde uma jovem pretendente a actriz se apaixona por um cego, onde o uso de uma montagem vertiginosa e uma boa banda sonora nos prendem ao ecrã.
De todos os filmes houve 3 que me despertaram uma pequena repulsa: o de Gus Van Sant, onde mais uma vez reafirmou a minha ideia de um realizador pedante e sem ideias interessantes para contar. Foi o único realizador a usar a temática gay, ao contrário de todos os outros realizadores franceses, que facilmente podiam ter caido nesse tema tão recorrente na sua filmografia e o pior de tudo é que o personagem refere que gosta muito de Kurt Cobain, uma óbvia referência a Last Days. Por favor senhor Van Sant poupe-nos! O 2º filme foi o de Christopher Doyle, director de fotografia de 2046 de Wong Kar Wai, que fez uma curta completamente desconexa e estúpida. Mais vale continuar a dedicar-se à direcção de fotografia...E finalmente, o filme com a sempre chorosa Juliette Binoche, que mais uma vez ou está com a lágrima ao canto do olho ou está a largar "baba e ranho", depois de ter perdido o seu filho e deparando-se com um Willem Dafoe, qual cowboy montado num cavalo,a representar Deus, mas o que é isto?
Basicamente são estes filmes que mais se destacam, quer pela positiva quer pela negativa, por isso se ficaram com água na boca depois de ler o que escrevi, por favor dirijam-se a uma sala de cinema próxima....