Babel
O drama, a tragédia, o horror...
Alejandro González Iñarritu completa com este filme a triologia dedicada ao sofrimento e à tragédia, iniciada com "Amores Perros" e "21 Gramas". "Babel" é um conjunto de histórias que se cruzam e que atravessam vários países: começa em Marrocos, remete-nos para o México, leva-nos aos EUA, volta a Marrocos, tudo isto com uma história em Tóquio à mistura, exprimindo-nos a solidão individual que a globalização pode gerar, não havendo um colectivo que o possa aliviar. Todas as histórias estão ligadas ao tiro sofrido por Cate Blanchett, durante a sua viagem por Marrocos com o marido (Brad Pitt), a empregada Mexicana que cuida dos filhos do casal e quer assisitir ao casamento do filho no México, os irmãos marroquinos que são responsáveis pelo tiro e por fim a adolescente japonesa surda-muda, cujo pai está indirectamente ligado à arma disparada.
Tudo isto se cruza num drama excessivo, que chega a aborrecer.
Quando saí da sala de cinema senti-me vazio, a amálgama de histórias apresentadas não havendo uma relação suficientemente forte entre a história japonesa e o resto do filme, não me convenceu. Iñarritu não apresentou nada de novo com este filme e por isso não partilho da emoção vivida por público e crítica, que consideram este filme um dos melhores do ano, ou talvez o melhor.
O elenco é óptimo, a realização também, não posso negar que Iñarritu filma bem, mas sinceramente é muito semelhante aos anteriores. Não tenho nada contra os realizadores que façam filmes muito semelhantes a nível de temática, até porque gosto imenso do Woody Allen ( até ao Vigaristas de Bairro) e de alguns do Almodóbar, que nitidamente pegam em temas que dominam bem, mas Iñarritu aborrece-me e não acho que os seus filmes sejam assim tão bons como a maior parte acha. O melhor ainda é "Amores Perros" e espero sinceramente que o próximo não seja tão "dramalhão", a ver se consigo fazer as pazes com ele...
Filmes de 2006Pois é, estamos a chegar ao fim do ano e resolvi partilhar com vocês uma lista dos filmes que estrearam em 2006, que mais gostei. Resolvi não apresentar os filme por números, porque sempre tive dificuldade em dar uma ordem de preferência aos filmes, mas de qualquer maneira aqui vai:Matador - Richard ShepardOs Três Enterros de um Homem - Tommy Lee JonesA Prairie Home Companion - Bastidores da Rádio - Robert AltmanWalk the Line - James MangoldVolver - Pedro AlmodóbarLittle Miss Sunshine - Jonathan Dayton, Valerie FarisPular a Cerca - Tim Johnson e Karey KirkpatrickGood Night, and Good Luck - George ClooneyCars - John LasseterThe Departed: Entre Inimigos - Martin ScorceseShooting Dogs: Testemunhos de Sangue - Michael Caton-Jones16 Blocks - Richard DonnerAcho que não me esqueci de nenhum, mas se quiserem estão à vontade para dar o vosso contributo ou comentário.
Flags of Our Fathers
Qualquer novo trabalho do realizador Clint Eastwood é aguardado com expectativa, e “Flags of Our Fathers” não é excepção. O filme baseia-se no livro de James Bradley, "Flags of Our Fathers: Heroes of Iwo Jima", e foi adaptado por Paul Haggis (argumentista de Million Dollar Baby).
A batalha de Iwo Jima, que teve lugar no Inverno de 1945, foi um ponto de viragem na história da guerra no Pacífico. Neste projecto arrojado, Eastwood filmou os dois lados da mesma história: “Flags of Our Fathers” (ponto de vista dos americanos) e “Letters from Iwo Jima” (ponto de vista dos japoneses). A crítica internacional rendeu-se a estes 2 filmes, destacando porém o segundo tomo, que estreará por cá em Fevereiro. Eastwood viu-se nomeado para os Globos de Ouro na categoria de Melhor Realizador com estes 2 filmes, bem como para o Globo de Ouro para melhor filme de língua não inglesa com "Letters from Iwo Jima".
Porém, apesar de toda a curiosidade que um filme de Eastwood me desperta, saí um pouco desiludido da sala de cinema. Eastwood habituou-nos a personagens intensos e consistentes e com este filme deixou um pouco a desejar em relação à escolha dos actores. É claro que um filme de guerra, que exige inúmeros figurantes e cenas de batalha torna-se mais dificil para aprofundar personagens, não é um "Mystic River" ou um "Million Dollar Baby", mas de qualquer maneira penso que não foi muito feliz com a escolha. Ryan Philippe ("Doc" Bradley) é um autêntico canastrão e em qualquer filme que entre está sempre com a mesma cara. Com certeza deve ter sido Paul Haggis, que realizou Crash (onde Ryan Phillipe entra) e escreveu o argumento deste filme, que convenceu Eastwood a escolhê-lo. De qualquer maneira, dos 3 actores o que se mais se destaca é Adam Beach (no papel de Ira Hayes), conseguindo criar mais empatia com o espectador. As cenas de batalha estão irrepreensíveis, mais uma vez Eastwood demonstra que é um grande realizador.Agora basta esperar pelo 2º filme e confirmar se realmente "Letters from Iwo Jima" é realmente a obra-prima de Eastwood, como foi classificado por alguns críticos. Este filme não é com certeza...
16 Blocks
O novo filme de Richard Donner (Superman, The Omen e Arma Mortífera) foi uma agradável surpresa em relação ao vazio que impera nas nossas salas de cinema. A única referência que tinha deste filme é que era protagonizado por Bruce Willis e Mos Def e que era um thriller policial.
Bruce Willis representa um polícia de meia-idade, alcoólico, que tem que escoltar um prisioneiro até ao tribunal para testemunhar num importante caso de corrupção policial. O título do filme deriva dos 16 quarteirões que os dois protagonistas têm que percorrer até chegar ao seu destino, enfrentando uma implacável perseguição que se destina a aniquilar a testemunha.
O ritmo do filme é intenso e decorre praticamente em tempo real e a informação é-nos dada aos poucos, tal como o próprio nome do filme indica, à medida que vão avançando pelas ruas, o puzzle vai-se completando. O tema do polícia bom e do polícia mau não é novo, mas Donner consegue criar um filme minimamente original, com poucos recursos a efeitos especiais.
Os diálogos são inteligentes e as prestações de Bruce Willis e de Mos Def são competentes.
O personagem de Willis é praticamente descrito sem necessitar de diálogos e através das suas acções e gestos percebemos que está cansado e que carrega consigo um peso nos ombros devido aos anos de carreira como polícia, agravados pelo consumo de álcool.
Mos Def funciona como a parte cómica do filme, devido à sua tagarelice e voz nasalada, e ao mesmo tempo é complexo o suficiente para despertar o lado mais humano de Willlis, formando-se uma forte ligação entre polícia-prisioneiro.
É uma boa aposta para quem tem saudades de ver um bom thriller policial e um filme de jeito com Bruce Willis. Também é certo que os actores resultam bem quando são bem dirigidos e neste caso Bruce Willis está em boa forma e recomenda-se.
Casino Royale - em vez do cafézinho com leeiiite, temos o vodka martini!
Muito se escreveu sobre a escolha do novo Bond. Os fãs da saga chegaram ao cúmulo de criar um blog a dizer mal de Daniel Craig, revoltados com a nova escolha - falaram por ser louro, porque tinha orelhas salientes, porque era baixo (1,80m, quem escreveu devia ter 2m pelo menos, não?), que não tinha o carisma de Pierce Brosnan, etc. É verdade que Daniel Craig não tem o ar elegante de Pierce Brosnan, mas também a ideia era cortar com o passado e apresentar um Bond mais atlético e mais rude, mais ao jeito do de Sean Connery.
Sinceramente apesar de não delirar com o Daniel, tenho de admitir que me convenceu como James Bond e pelo menos elevou um pouco a fasquia de uns filmes que ultimamente se tornaram completamente irrelevantes no actual panorama cinematográfico. Confesso que acho alguma piada a alguns Bond de Sean Connery, mas depois os actores que se seguiram não tinham grande carisma e o argumento era mais do mesmo, sem nada de novo a transmitir.
O uso abusivo de mais e melhores efeitos especiais (o carro invisível do anterior Bond é um exemplo), foi relegando o argumento para um plano secundário, ficando imerso em "fogo de artifício" que enchia o olho, mas que não convencia. O uso recorrente de vilões megalómanos, que queriam destruir o mundo (nos filmes parecia sempre uma coisa muito fácil), também não ajudou ao conjunto, porque à medida que os filmes iam estreando, já sabiamos o que iamos ver e não se tornava uma coisa aliciante.
Curiosamente, "Casino Royale" foi o primeiro livro escrito por Ian Fleming sobre o mais famoso agente secreto ao serviço de Sua Majestade, mas as dificuldades em obter os direitos de autor do livro, atrasaram a sua adaptação ao cinema. Reza a lenda que escreveu parte do livro, confortavelmente instalado no Hotel que se encontra perto do Casino Estoril e que vem daí o facto da maior parte da acção se situar numa mesa de poker, no Casino Royale em Montenegro.
Desta vez James Bond, após ter adquirido o estatuto de 007, tem que lidar com o cepticismo de M em relação à sua postura como agente secreto e a sua primeira missão leva-o até Le Chiffre, um poderoso banqueiro que lida com terroristas, disponibilizando-lhes acesso às suas contas em qualquer parte do mundo. Para o derrotar, terá que o bater num jogo de poker em que cada jogador terá que efectuar um depósito milionário para garantir a sua participação. Esse fundo é providenciado pela enigmática Vesper Lynn, a 1ª Bond girl de sempre, personagem essa que reserva algumas surpresas e que é responsável pela falta de envolvimento emotivo por parte de Bond em relação às mulheres.
De resto, mais uma vez tira partido de belas paisagens, mulheres bonitas e muita acção. Realço a perseguição inicial do filme, sendo bastante empolgante, bem como alguns diálogos entre Bond e Vesper Lynn, cheios de sarcasmo e 2ª intenções. E como tudo o que vende tem seguimento, lá virá o Bond 22 em 2008. Daniel, por mim estás aprovado!