bad review

Sunday, July 08, 2007

Olhó Clássico da TV!
2ª parte


Em 2004 estreavam duas séries que iriam mudar o actual panorama televisivo: uma era “Perdidos”, a outra “Donas de Casa Desesperadas”.
Mas antes disso, outras séries prenderam o espectador ao sofá e foram responsáveis pela criação de uma interminável legião de fãs. Lembram-se de “O Justiceiro”, “Macgyver” e “Twin Peaks”?

O “Justiceiro”, ou “The Knight Rider” (1982-1986) no seu título original, lançou para o estrelato David Hassellhoff e o seu personagem: Michael Knight. Michael era um homem que lutava contra o crime, tendo como aliado o benfeitor Devon Miles, que lhe fornecia equipamento e todos os meios que estivessem ao seu alcance na sua cruzada contra o crime. A mais notável peça de equipamento, era também a mais adorada pelos telespectadores: o carro “Kitt”, um carro de alta performance com inteligência artificial. Quem não se lembra da famosa música do genérico e dos obstáculos ultrapassados com os famosos saltos de “Kitt”. Ai que saudades!

Mas outra série veio, um ano antes de “O Justiceiro” acabar, para garantir o nosso lugar no sofá ao Domingo à tarde em frente à televisão: “MacGyver” (1985-1992)
“MacGyver” era o homem que, com um canivete suiço e fita adesiva, salvava o mundo. Explorador solitário, encontrava-se por vezes a trabalhar com uma organização chamada “Phoenix Foundation”, para o governo ou para um amigo em apuros. Encontrava os obstáculos mais inesperados e impossíveis, mas conseguia sempre arranjar uma solução fantástica, sem necessitar de armas, derrotando sempre os vilões no final, graças aos seus gadgets improvisados.

Algures entre “Dallas” e “Anatomia de Grey”, houve o marco Twin Peaks (1990-1991). Numa altura em que os adolescentes se entretiam com as aventuras de Brandon e Brenda em “Beverly Hills 90210”, “Twin Peaks” mostrou que poderia haver outra televisão. A pergunta “Quem matou Laura Palmer?” tirou o sono a muita gente, que tentou encontrar uma resposta nas inúmeras pistas deixadas pelo mestre do significado sem explicação. A aura de mistério e sobrenatural da povoação de Twin Peaks abriu terreno para séries futuras, como “Ficheiros Secretos” e “Perdidos”. Aliás, “Twin Peaks” é uma série de referência para Joss Whedon (criador de “Buffy” e “Serenity”), para David Chase (criador dos “Sopranos”) e a série favorita dos criadores de “Perdidos”.

Estas séries e muitas outras (que não tive tempo para falar aqui) ganharam um lugar de destaque na história da televisão e abriram o caminho para as séries do século XXI, onde cada vez mais actores e realizadores de cinema se deixam render pela caixa mais famosa do mundo. Podemos mesmo dizer, que as séries vieram para ficar! Com o crescimento do mercado de venda em DVD, as séries ocupam cada vez mais um lugar de destaque nas lojas especializadas, havendo para todos os gostos. É só escolher!


Fontes: “Internet Movie Database” e artigo “A revolução está a passar na televisão”, do suplemento Y ( jornal Público de 20 de Abril de 2007)

Sunday, July 01, 2007

O regresso da idade de ouro da ficção televisiva americana
1ª parte

Há quem se feche em casa a ver temporadas seguidas de séries em DVD. Há quem não aguente esperar mais uma semana para ver novo episódio na televisão e aceda à internet para o sacar (o significado desta palavra no dicionário é interessante: aconselho que o procurem). O mundo voltou a render-se às séries de ficção americanas. Quem nunca ouviu falar de “24”, “Perdidos”, “Dr.House” ou “Anatomia de Grey”?

Não há uma grande série no momento, há várias. Obrigam-nos a seguir cada episódio sob pena de se perder o fio à meada, criando novos hábitos. Há uma revolução criativa, um desafio à subtileza do telespectador e uma vontade de querermos saber mais sobre a série e sobre as personagens. Somos forçados a gravar, piratear, discutir e trocar opiniões sobre um mundo e personagens em evolução, que nos acompanham todas as semanas.

A escrita e a forma de contar histórias é incrivelmente densa, o que resulta em enredos fascinantes, mas também arriscados. Um elemento presente nas novas séries é a ambuiguidade das personagens. A fronteira entre o bem e o mal é muito ténue e muitas das vezes o herói não é completamente bom e isento de culpa. Veja-se o caso de Jack Bauer em “24” - salva sempre o mundo das piores situações de terrorismo, mas espalha pelo seu percurso, a morte e tortura - ou de Dr. House - bruto na relação com pacientes, amigos, colegas e família, mas que descobre sempre a salvação para o caso mais complicado. Muitas das vezes as personagens mais interessantes são as mais sórdidas e violentas, porque tornam a narrativa mais complexa e imprevisível.

O fascinante em muitas séries é que são mais ousadas do que muitos filmes. Não só mostram coragem ao “matar” personagens essenciais para o espectador, mas também ao tocar nos temas que muitas das vezes se tornam tabu no cinema, tal como a série “Letra L”, que aborda a temática lésbica de uma forma sensual e despreocupada. E porque é que isto não está a acontecer no cinema? Neste momento, o cinema é, acima de tudo, um negócio, um bem económico guiado pelo resultado de bilheteira na primeira semana de exibição e em que os blockbusters e as sequelas são o prato forte. Não é o suporte ideal para os riscos criativos que se passam neste momento na televisão. Os filmes são muito caros, o que faz com que haja algum receio dos realizadores e produtores em aventurar-se, o que acaba por torná-los mais previsíveis. No cinema, acresce a existência de limitações narrativas, porque em duas horas não se consegue desenvolver personagens com a perfeição que uma série pode obter.

Mas sem sombra de dúvida, a qualidade narrativa desta revolução que está a passar neste momento na televisão é unânime para todos: críticos de televisão, argumentistas, realizadores e telespectadores. Podemos afirmar que estamos a viver uma época de maturidade da narrativa televisiva, uma época de ouro de séries de ficção americanas.


Baseado no artigo “A revolução está a passar na televisão”, do suplemento Y ( jornal Público de 20 de Abril de 2007)